O Sonho Antigo que Pode Mudar a Geografia e a Economia do Araguaia

Economia ESTRADA DA INTEGRAÇÃO 08/10/2025 07:43

Projeto idealizado na era Siqueira Campos ex governador de Tocantins  promete encurtar distâncias e alavancar o turismo, mas esbarra em questões ambientais há décadas. Projeto idealizado na era Siqueira Campos ex governador de Tocantins  promete encurtar distâncias e alavancar o turismo, mas esbarra em questões ambientais há décadas. 

 

São Félix do Araguaia (MT) – Nas conversas de fim de tarde, nas reuniões de associações comerciais e nos discursos de políticos locais, um tema persiste, geração após geração: o sonho de uma estrada asfaltada que cortaria a Ilha do Bananal, ligando definitivamente o Norte do Araguaia mato-grossense ao estado do Tocantins e, por consequência, ao Centro-Oeste e Sudeste do país. Mais do que uma via, é um projeto considerado vital para o desenvolvimento de uma região que se sente geograficamente isolada. 
O relato do jornalista José Maurival, defensor da criação do "Estado do Araguaia", sintetiza o sentimento coletivo. "Aqui em São Félix existe um projeto já um pouco antigo e eu já participei dele várias vezes, juntamente com o então e saudoso governador José Wilson Siqueira Campos", recorda-se Maurival, referindo-se a um plano da década de 1980. "É uma estrada que atravessaria a Ilha do Bananal, ligando São Pedro do Araguaia com Tocantins. Dali, saindo para Gurupi, Goiânia, Brasília. Encurtaria a distância muito pra quem está  aqui no Norte Araguaia". 
O projeto ao qual o Jornalista se refere é popularmente conhecido e foi formalizado pelo engenheiro Mazaro, tornando-se uma espécie de lenda regional. A obra criaria um corredor logístico direto, evitando o longo desvio que os caminhões e veículos precisam fazer atualmente para conectar as duas regiões. "É um sonho, é um projeto pronto... e está preso aí por questões ambientais", lamenta Maurival, ecoando uma frustração comum. 
Os defensores da obra enumeram seus benefícios. O principal é o impulso ao comércio e ao turismo. "Tiraria São Félix do 'ostracismo' e com certeza alavancaria mais o turismo pra toda a região", projeta o Jornalista, usando um termo local para definir o isolamento geográfico. A estrada interligaria Goiás com Tocantins ao Norte do Mato Grosso, uma conexão que hoje simplesmente "não tem". 
A Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo, é ao mesmo tempo a maior riqueza e o maior obstáculo. Sua porção mato-grossense abriga o Parque Indígena do Araguaia e o Parque Nacional do Araguaia, unidades de conservação de proteção integral. Qualquer obra de grande porte no local esbarra em uma complexa legislação ambiental e na necessidade de consulta aos povos indígenas. 
Do lado de fora dos escritórios de planejamento e das expectativas da população, biólogos, ambientalistas e o próprio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) veem o projeto com extrema cautela. Uma estrada cortando a ilha poderia causar fragmentação de habitats, atropelamento de fauna, facilitar a invasão de terras indígenas e o desmatamento, além de impactar ecossistemas únicos. 
A justificativa dos órgãos ambientais é que a região possui uma fragilidade ecológica imensa, e abri-la para o tráfego de veículos representaria um risco de danos irreversíveis. O "impasse ambiental", citado de forma simplificada pelo senhor Maurival, é, na verdade, uma disputa complexa entre um modelo de desenvolvimento baseado na infraestrutura física e a obrigação legal de preservar um patrimônio natural e cultural da humanidade. 
Enquanto isso, o "sonho" permanece nos arquivos e na memória dos mais antigos. Para uns, é a chave para o progresso há muito esperado. Para outros, um risco que não pode ser corrido. O que era um projeto na era Siqueira Campos continua, décadas depois, como um debate não resolvido, mostrando o delicado equilíbrio entre o desejo de integração e a necessidade de conservação no coração do Brasil.


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